sábado, 18 de junho de 2011

haikai

Numa orgia de cores e sons
Mixam classes. Vejo faces
Pretas, brancas e marrons





"Os japoneses possuem uma forma elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular: é o haikai, palavra que nós ocidentais não sabemos traduzir senão com ênfase, é o epigrama lírico. São tercetos breves, versos de cinco, sete e cinco pés, ao todo dezessete sílabas. Nesses moldes vazam, entretanto, emoções, imagens, comparações, sugestões, suspiros, desejos, sonhos... de encanto intraduzível" - GOGA, H. Masuda.

Olhos Verdes, Sangue e Sal

Parte I


Dono de olhos verdes de brilho roubado
Do mar banhado ao sol dourado
De cabelos tão negros com mechas oleosas
Afeitas à maresia e limpezas cabulosas

Tinha o olhar mais bonito de todos os herdeiros
Da segunda geração de barqueiros!
- sem falar dos pescadores,
Crianças, mulheres e seus amores.

De todos os viventes tinha a visão mais invejada
E uma perspectiva agradavelmente desejada:
Via (o mundo) mais colorido
Com a pureza de um recém-nascido

Mas captava para si a tristeza
De atos maldosos e avareza
E nunca, em sua vida que não perecia
Se absteve da culpa que não merecia

Em cada briga, guerra e discussão
Refletia o menino em sua concepção:
“Ee isso acontece apenas com que eu vejo
                         [que no entanto estava quieto,
Seriam os meus olhos os culpados do desafeto?”

E não querendo ser o culpado por aquilo tudo
Qual seria sua solução: ser cego ou ser mudo?
Pensando na dor de tudo que seu olhar causava
Não pestanejou em decidir o que necessitava

Nadou até um barco no pier de Bragança
Em cada mão guarando uma lança.
E sem sentir dor e sem ficar agoniado,
Cravou em seus olhos verdes o objeto afiado.

E do barco caiu na água salgada
Enquanto emergia a pele pouco bronzeada.
E a angústia de ver o lado triste de um mundo normal

Acabava naquele momento, com sangue se diluindo no sal


(...)

poesia surreal

Poesia em trilhos de trem
Conversas onde não há ninguém
Brigas de relho
Em frente ao espelho

Vejo nos olhos teus
q
u
e
d
a

Delírios de Deus

sexta-feira, 17 de junho de 2011

soneto do ocaso

São riscos (de mel)
Dó, ré, mi bemol
Desenhados no sol
São gemidos no céu



Amantes no motel...
Cavalos de um carrossel
Uma guitarra em rock'n'roll
O que vejo; o que sou



Vejo uma noiva e seu anel
Agradando o seu véu
Lá vem o noivo - sou eu!...



E ainda no sol-se-pôr
Vejo o rosto meu
No céu mudar de cor.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aurora

     Aurora sai correndo na Rua e encontra Rafael caminhando com passos longos e rápidos. Ele leva consigo uma trouxa com seus pertences.


AURORA
Rafael! Rafael!
     É ignorada. Ela tenta puxá-lo pela mão.




AURORA
Rafael!


RAFAEL
O quê?!
     O menino pára irritado e vira-se. Pausa dramática.




AURORA
Aonde você vai?


RAFAEL
Procurar meu sol.


Havemos de amanhecer.




     Ele se vira e continua o caminho. Aurora continua indo atrás dele.


AURORA
O que aconteceu com você?
     É ignorada.


AURORA
Cadê seu brilho, Rafael?!


RAFAEL
Pra que brilhar se não há um

sol pra nos dar a luz?!

     Ele se vira e segue seu rumo deixando Aurora para trás, que por sua vez tem um insight e corre de volta para sua casa.
     A medida que passa a rua seus vizinhos vão para fora e observam a menina passar.

Aurora é meu segundo roteiro de curta metragem que está sendo produzido pelo 3º Batalhão em parceria com Canjica Filmes e apoio da Brun Video Produtora. Conta a história de uma vila do interior que sofre com os efeitos de um inesperado eclipse de seis meses.
O curta será lançado dia 13 de julho deste ano na 5ª Mostra de Curtas da Paz em Santa Rosa, Rio Grande do Sul.

domingo, 12 de junho de 2011

meu tempo é quando

Sempre fui um poeta de gaveta, às margens da literatura popular - marginal. Paralelo à cultura do mercado, rimo o experimental com minha própria consciência; meu ritmo não é de meu poder, posto que é do destino. Vejo o meu redor (como em um script) meio poético. Meu tempo é quando pauso. Vivo em transitividade direta com imposto intransitivo. Sou um amante de Chico Buarque, Vinicius de Moraes e de todo brasileiro. Gosto de pensar que não devo nada a ninguém e que minha única lei é obedecer a lei de Chico homônima ao Blog.